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sexta-feira, 27 de maio de 2011

O arado, o dom, a rocha!

(Por Pedro Lança Gomes e a noite mais mal dormida de maio)




Era bem assim... vazio, inexistente. Tudo que girava ao redor dançava em tom de dó menor!
Olhava para os lados, e nada via; olhava para cima e o sol me cegava; olhava para baixo e só minha sombra via; olhei, então, para frente, e, mesmo que por um lapso de momento, eu quis continuar, pois a vida mostrou-se mais do que uma mera melodia a ressoar, crua, por entre as paredes, nuas, do meu coração.

A vida as vezes é surda e muda, e apenas os olhos persistem, eles que são os únicos a receberem luz. O tempo mostra que só existe uma janela da alma, e que por entre suas frestas não há brisas falsas, mas vendavais em veras.

Não havia mais luz, só olhares. Vivia então do que ouvia, e não há nada mais deprimente:
Notas e palavras se mordem até se devorarem por completo, só então se tem uma bela composição, por isso os acordes da vida tem um timbre tão amargo! Vivem sozinhos, tocando a mesma tecla quebrada de cravo. As vezes acompanhados por cordas de viola desafinadas ou por sopros inconstantes de uma flauta: antes só que mal acompanhado!

O homem por dentro não passa de terra ermã, erodida e deveastada pelo tempo, na qual nem mesmo o pior silvedo nasce. É preciso preparar o solo para que se torne algo fértil, plantar a melhor das sementes e regá-lo com lágrimas de misericórdia, que caem apenas dos olhos de quem ama. Dos demais, caem como veneno ácido. Matam ao menor contato.

Um dia regaram minhas sementes, e brotaram as primeiras folhas. Delas, flores. Deles, frutos. E deles, sementes, que hoje almejo plantar, para que o mesmo dó menor não acabe em sí diminuto!






Pedro Lança Gomes