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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Monólogo do homem póstumo



Ao usar-me em vossas elucubrações, buscando em mim compreender mais de vós, peço-vos que me olhem, antes, nos olhos. Estes contemplaram toda sorte de maravilhas, horrores, bênçãos e desgraças. Choraram, sorriram, e hoje repousam no último adeus. Peço-vos também que peguem em minhas mãos e sintam o carinho e a aspereza que um dia carregaram. Vedes meu coração? O mesmo alimentava cada pedaço de sonho em mim - lembrando-me porém, a cada batida, que o tempo, inexorável, o consumia. Meus pulmões, ora cheios do fôlego da vida, suspiraram mais paixões que desgostos! Deram-me a graça singela das últimas palavras.

Sabe, com o tempo vereis que não somos assim tão diferentes. A humanidade, crua, despreza aparência, moral, riquezas e poder. Por dentro somos todos iguais, e isso pode, as vezes, soar amedrontador. O que vedes em mim é o fim de todos e de tudo, é também como sereis quando vossas alma abandonarem a janela dos olhos. Jamais se esqueçam, portanto, de dispensar tais futilidades ao tentar desvendar vossos mistérios acadêmicos em mim.

Espero que sejais verdadeiramente gratos pelo privilégio de me terem para perpetuar o avanço de vossos conhecimentos. Saibam que não há honra maior que, mesmo após a morte, contribuir para uma missão tão nobre. Nunca terei a chance de agradecer, mas vos imploro, em um apelo um tanto egoísta, que façam do vosso trabalho a minha gratidão.





Pedro Lança Gomes

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