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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Libertas quae sera tamen

Todos temos sede de liberdade, mas muitas vezes nem sabemos o que realmente significa ser livre. Reclamamos muito por viver em um mundo no qual não podemos falar, sentir ou fazer o que queremos, ao mesmo tempo que achamos válidas as regras que regem nossa sociedade.
A maioria das pessoas, quando questionadas sobre a própria liberdade, demonstram uma certa insatisfação, e acabam por atribuir ao dinheiro um caráter condicional, o que, em um âmbito captalista, já era mais do que esperado. O raciocínio é o seguinte: minha liberdade será tanto maior quanto for meu poder aquisitivo. Agindo de acordo com isso, eliminamos a possibilidade de uma introspectiva relfexiva e partimos para uma busca insaciável que tem como alvo o acúmulo de capital.
     

A medida que nos dedicamos à essa busca, vemos o tempo passar, e com ele nossa própria vida. Se soubermos aproveitar as oportunidades certas, realmente podemos alcançar o tão almejado crescimento econômico, nos aproximando do que achamos que nos libertará. No decorrer dos fatos, começamos a perceber mudanças nos nossos relacionamentos mais próximos: sentimos um certo distanciamento. Algo que logo esquecemos ao desfrutarmos do recém-adquirido poder aquisitivo: nos justificamos pelos nossos bens e o efeito que ele causa na nossa vida e na vida alheia. Porém, ao sairmos de casa, no carrão zero km, vemos passar pela rua uma família: pai, mãe e 3 filhos, todos apertados num carrinho velho. Eles se divertiam cantando juntos uma música que tocava no radinho. Rapidamente lembramos da época na qual éramos nós que andávamos em carros velhos, e sentimos vergonha de nós mesmos. Em seguida, viramos a esquina e vemos alguém diferente: tinha um carro mais caro que o nosso, um terno mais caro que o nosso, um relógio mais caro que o nosso. Então, delirantemente, o admiramos e o invejamos. Queremos ser mais "livres" que todos.


A sede de poder nos toma por completo, fazendo-nos achar que nunca temos o suficiente. O sistema nos faz vítimas, presos nesse ciclo vicioso que nos consome e nos tira exatamente o que mais queríamos.Quando percebemos o que se passa, geralmente já é tarde demais.
A liberdade não pode ser comprada, trocada ou roubada! Ela existe na vida gratuitamente, mas devido à singularidade de cada um, se porta diferentemente, sendo situada, e não limitada, pelo nosso cotidiano: podemos fazer o que bem entendermos de acordo com a interação com o que nos cerca.
O homem é um ser de liberdade, e o único que pode escolher não ser livre.



Pedro Lança Gomes

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