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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

As crônicas da criação

(Por Gustavo Miranda e Pedro Augusto)






Eis que das negras nuvens da tempestade vindoura uma voz se fez ouvir. E seu timbre tremia as bases da terra, e nada manter-se em pé podia.

Os pássaros voavam formando uma estranha forma no céu, e as águas dos oceanos agitavam-se cada vez mais... Relâmpagos caiam fulminando algumas plantas em seu fim, e tudo o que era negro voltada, por um milionésimo de segundo, a ter cor.

Uma sinfonia suave começou então a ressonar nos longes da escuridão eterna. Era uma sinfonia tão calma, que tudo agora parecia impregnado de eternidade. Uma sensação tão acalentadora, que dava vontade de adormecer e não mais voltar.

Era uma presença plácida que começava a expandir, e ao mesmo tempo convergir em nossa volta.

Sentimos um calor em forma de brisa marítima, com cheiro de liberdade, que passou entre nossos corpos, e nós começamos a entender.

Pouco a pouco, novamente a vida retomava o seu status de vida. Mas não havia cor. Não havia respiração. Não havia mais anda, há não ser aquela presença calma e mansa.

Era uma nobreza tão transcendente, que dar-se-nos-ia tudo ouro de mundo para competirmos com aquilo, mas não passaríamos de vaidade. Era mais do que nobreza! Era uma forma Divina de graça!

Como se, em nossa memória, houvesse algo de uma época antes do tempo, mas que agora despertava. Memória essa que aos poucos tomava forma constante no tempo daquela escuridão, ao passo que a sinfonia aumentava.  Eram versos que nos chamavam de volta, como muitas vozes de um povo que recebe seus irmãos de uma guerra.

As palavras não podiam ser compreendidas nem contidas por linguagens alguma. Eram novas e cada uma era única, ditas apenas uma vez, como o primeiro dia de muitos outros que acreditávamos que viria. As palavras giravam em nossa volta, dançando, tomando formas que eram incomuns no mundo real. Elas se entrelaçavam com a música, formando vários vários códigos genéticos. Cada acorde trazia a tona a verdadeira realidade, e os nossos olhos não suportariam a luz. A luz não era igual. Tinha um tom brando em seus espectros. E pouco a pouco, mesmo de olhos fechados, percebíamos a luz que preenchia todo o vazio. Mas mesmo sentindo essa presença estranha, não se via nada! Tudo era escuro!

Não havia mais sombras, só incertezas de coisas estranhas se formando vagarosamente perto de nós. Mas a música agora podia ser vista, mesmo com os olhos fechados... E por quê? Ela tinha um vestido de muitas cores, era como som de trovões a cada dúvida. Ela dançava, e a cada passo uma nota diferente soava. As notas se encaixavam perfeitamente na nova sinfonia que se formava... Mesmo assim, não podíamos entender seus movimentos.

As cores ofuscavam, e ao mesmo tempo agradavam, aos nossos olhos... E nesse mesmo instante, as palavras ganharam uma forma reificada, e as duas começavam agora a formar uma sinfonia universal de tons e vozes, que há muito não se ouvia. E por quê? Um universo de novas percepções invadia cada parte de nosso ser. Não tínhamos os mesmos nomes, não tínhamos mais nada, éramos parte da música... E era estranho a sensação de estar com olhos fechados sabendo que eles estavam abertos.

A música começou a diminuir sua intensidade, e só se ouvia, bem longe, aquela sensação de uma brandura eterna... Porque agora éramos a música, e corríamos muito além da velocidade da luz - os homens estavam errados, pois o som viaja nos corações.

Passávamos pelas memórias perdidas da humanidade... Queríamos chorar as lágrimas perdidas, mas a Música tomava caminhos próprios. Mesmo os acordes mais melancólicos, transformavam o significado de cada instante em coisas maravilhosas! Cada novo tema nos fazia compreender mais! E agora dançávamos na luz de olhos abertos.

As maravilhas do mundo inteiro, em um só segundo passaram por nós, e mais uma vez caímos na escuridão, e o que achávamos ser a luz, fora o reflexo da música indo embora.

Mais uma vez estávamos sós, e o silêncio mostrou sua face. Era uma bela face, porém recheada de mistério... Por várias eras permanecemos ali, e ele nos ensinou muitas coisas... Nos mostrou a verdade sobre a escuridão, e porque ninguém gostava dela.

Todos pensavam que o silêncio era o fim, porque se enclausuravam em suas tocas no tempo. Não paravam para ouvir cada detalhe da vida, não ouviam o silêncio entre cada verso.

O Silêncio nos mostrou que a escuridão era simplesmente as coisas quietas e intocáveis da vida, coisas das quais ninguém nunca encontraria uma resposta racional, e tampouco irracional. Ele nos disse que transpassava o tempo, e transcendia o espaço. Suas palavras eram profundas como a vastidão de um universo, e pouco a pouco, ele foi sumindo.

De repente, algo se nos fez ver. Ele vestia roupas mais brancas que a nova luz do novo sol, e sua complacência se tornou como uma armadura de ouro. Sua justiça se fez sentir. Seus cabelos eram brancos, e não víamos seu rosto.

Ele começou a falar sobre tudo o que tínhamos visto. E explicou a razão do universo e tudo o mais. Eram coisas lindas! Suas roupas eram sons de todos os tempos.

Repentinamente a escuridão tomou formas, e uma nova vida ia se criando vagarosamente; As plantas pouco a pouco ganhavam cores e vidas; Um rio fluiu no meio do nada e correu até o infinito. Por onde passava, cresciam belas relvas, brotavam muitas cores. Essas cores correram pelo mundo mais uma vez, e mais uma vez uma nova criação nasceu.
O céu era novo, e não tínhamos mais o mesmo nome...
Mais o mesmo nome...
O mesmo nome...
Mesmo...
Nome.









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