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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Segunda-feira

 
Quantas pessoas sorriem para você todos os dias? Quantas pessoas alegres você conhece? Quanto tempo faz que não escuta uma boa gargalhada?
- "Quantos dedos tem aqui?"
   É cada vez mais raro um sorriso sincero. A gente ri para agradar, ri por educação, ri para manipular, e, em alguns casos, ri para não chorar.
-"Dói alguma parte?"
   Às vezes uma língua afiada dói muito mais do que um corte na pele, e muitas vezes não há linha ou agulha que ajude a cicatrizar a alma.
-"Coitadinho!"
   Vivemos em um mundo cinza, nas cinzas do que já foi um arco-íris. De vez em quando achamos uma corzinha e aproveitamos ela ao máximo, até que se esgote, sem nunca nos preocuparmos em restaurá-la.
-"Não queria estar no seu lugar..."
   Você está feliz? Se estiver, é às custas de vários, pois para cada feliz no mundo temos muito mais infelizes. Para você ganhar, alguém tem que perder.
-"Ganhei o meu dia!"
   Você já fez alguém feliz? Ou viu alguém cair para outro se levantar?
-"Que tombo!"
   No meio da avenida, no meio da noite, sob um céu estupidamente estrelado, me tornei o mais estúpido: caí, ridiculamente, leve como uma feijoada.
   Fiz a alegria de uma pequena multidão. Senti um frio que viajou da planta dos meus pés até a ponta do meu nariz, causando um leve formigamento nas bochechas.
   Quantas risadas, quantos sorrisos! É certo que fiquei desconcertado, mas sem muita demora fui contagiado por aquela explosão magnífica de alegria momentânea. Nunca me senti tão bem em toda minha vida. Deveria cair mais vezes.
   Ganhei o meu dia.
      


Pedro Lança Gomes


2 comentários:

  1. É verdade. Hoje damos muito mais valor ao que temos e muito pouco ou quase nunca ao que somos.
    É mesmo muito difícil arrancar um sorriso de alguem, aquele verdadeiro. E mais difícil ainda saber se esse sorriso é sincero ou não. As pessoas muitas vezes falam da boca pra fora frases como "um sorriso vale mais que mil palvras" ou coisas do tipo,o que deveria sim ser realmente de fora pra dentro. Ser absorvido verdadeiramente pelas pessoas e tranformado na exteriorização dessa absorção. Se fosse assim, as cores iriam reaparecer e deixariam aquela aparência acinzentada. Aparência porque o cinza apenas mimetiza e esconde o verdadeiro colorido que, sim, existe, mas nao quer ser demosntrado e acreditado. Não precisaríamos de nos preocupar em restaurar o colorido, uma vez que a restauração ocorreria naturalmente.

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  2. Belo comentário Stephanie. Gostaria de ressaltar alguns pontos.
    Boa parte do que somos é devido à cultura na qual estamos inseridos. Em um mundo aonde vigora o capitalismo consumista (sendo redundante), é de se esperar que as pessoas dêem valor ao que possuem, e que isso influa em seu comportamento.
    Vivemos a doutrina do "quanto mais melhor": mais dinheiro; mais status; mais beleza; mais poder; mais prazer, mais, mais, mais...o que afinal?! O carro da moda, a roupa da moda, a namorada(o) da moda, a . Mas claro, para sermos felizes, sabemos que não nos pode faltar o verdadeiro amor (da moda).
    Uma pessoa não somente o que ela quer de si, mas também o que os outros fazem, ou desejam, dela. Afinal, a própria palavra pessoa tem relação com isso: significa persona, ou máscara. Quantas máscaras temos usado!
    O sorriso é uma bem constante, mas não só ele: o choro; a ira; a calma; o amor...
    O homem é o único ser que escolheu, para si próprio, a desgraça e infelicidade.
    Por outro lado, ainda não está tudo perdido. Ainda resta um sentimento do qual não conseguimos escapar por completo: a tristeza. E é dela em que, com um fio de esperança, ainda podemos buscar nossa salvação, e restaurar as cores, não só do mundo, mas também dos nossos próprios olhos.
    Como isso aconteceria? Já é tema para outras discussões! Conto com uma nova participação sua, para que possamos continuar essa excitante caminhada na qual nos encontramos.

    Atenciosamente,

    Pedro Lança Gomes

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