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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Contos e pontos

 Na cidade em que eu nasci tinha um céu que é só de lá. As nuvens soltas, adocicadas, raras, riscavam o grande oceano celeste, e o sol dividia o dia com a lua. As águas iam escurecendo e as primeiras velas apareciam na medida em que o sol se cansava (apesar de continuar iluminando). O mar negro, eu nunca cheguei a contemplar, mas já ouvi histórias dos que o fizeram. Bem dizia o bom pegureiro: "Além de todo horizonte há uma barraca, e nela um velho orago. Quem o olhava nos olhos se descobria nu, e nunca mais usava roupas". O sono parecia sempre mais atraente do que a noite. Nesses momentos, minha mente já costumava estar visitando o fantástico Sítio do Pica-pau Amarelo, as casas do menino maluquinho, de bruxos, de monstros, de anjos, e a do meu avô. Por isso continuo usando roupas.

 Tudo era diferente e extremamente heterogêneo, faccionado. Cabelos longos, louros ou escuros (mesmo os intermediários), não eram bem vindos. A vontade era estar em todos os lugares, e ao mesmo tempo ser gigante, formiga, passarinho, viajante, motorista, motoqueiro, herói, artista, e eu. Resumia-se em um sonho polimorfo multidirecional intrínsceco e extrínsceco. Poderia mudar de passado, presente e construir "n" futuros, só não queria o futuro.

 O tempo não define passado, rouba o presente e recolhe o mistério para sí.

 A manga do pé um dia começou a incomodar, assim como a acerola, a carambola, a amora e o limão. As magníficas árvores não tinhas mais um topo, e a terra mudava, cada vez mais, de cheiro.

 10,11,12,13,14,15...quantos? Quando mesmo que foi a última vez que mergulhei naquele velho imenso oceano pueril?

  A última folha caiu do pé bem a tempo da primeira nascer...



Pedro Lança Gomes

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